Para todos os revolucionários do mundo,
os mesmos de sempre.
Nós vivemos num tempo fantástico
tenho muita esperança, mas
temo o sofrimento inevitável que as grandes mudanças provocam.
Coragem, hoje até o demiurgo (ou o que ele representa) faz arte.
Ah, mas você poderá dizer, isso foi sempre assim…
Foi e é. Já viu esse comercial aqui?
alguma coisa muda o momento
e o mundo não é mais o mesmo
agora do que foi ontem
na rua tomada de gente
as cabeças agora são outras
mas o vento nos cabelos
mas o beijo nas bocas
e a dureza do soco
são os mesmos de sempre
tão comuns como antes
do escarro ao gozo
são líquidos todos
como o vento é do ar
e o desejo é do fogo
como o mar apaga as pegadas
que os homens na areia
insistem pisar, com o tempo
qualquer caminho
será o mesmo atropelo
indiferente de sempre
do velho tempo comandante
diretor de variedades
porque o espetáculo deve continuar
porque a lei da existência é a mudança
e os ponteiros não param
por mais que os relógios mudem
e os homens na rua protestem
a as ondas na praia revolucionem
assim, vão todos
pelos mesmos motivos de antes
homens e ondas, impulsionados
pela mão do invisível
e inalterável apelo
do sempre, dispostos
a amar e morrer
a odiar e matar
homens em ondas sucessivas
quebrando na praça
premidos pela necessidade
do baixo calado, induzidos
pela dinâmica do espaço
homens excitados pela vida
ao encontro da morte, se fodem
fazem filhos, que alimentam
outras guerras, em outras ruas
não vão distantes, estão aqui
nem são eles, somos todos
homens armadores de revoluções
primatas mamadores de espaço
predadores fraternos na necessidade
dos uníssonos caçadores de presas
aos dispersivos coletores de frutos
todos somos fazedores de guerras
mas hoje o tempo são outros
e alguma coisa não é mais a mesma
e eu acho que não são os homens
Juçana Corrêa