Era uma vez…

A resposta à vida humana não se encontra dentro dos limites da vida humana.

Carl Gustav Jung
in O Livro Vermelho

 

 

 

 

 

 

Três poemas incompletos passeavam num bosque
e falavam animadamente de como esperavam pelo dia
de concluir-se: o primeiro dizia de um rio extinto
e de tatuagens de peixes riscadas no leito seco;
o segundo deliberava sobre os ecos de uma floresta
antiga, tão antiga que guardava o segredo do tempo
e sabia de mistérios de mil vidas; o terceiro
e mais simples dos três, só falava do céu.
Tão entretidos estavam em suas falas e versos
que não perceberam quando a sombra má
se aproximou. E era uma sombra densa e
rancorosa, impenetrável em sua solitude.
E foi com uma sede voraz que ela tomou
de assalto o rio seco. Não satisfeita, cobriu
de pestilências a floresta milenar e só foi parar
quando finalmente empalideceu o céu. Ela sabia –
a sombra sabia que tornava o mundo mais triste
sem a poesia, mas, não conseguia evitar, tamanho
era o seu desassossego, de entristecer as alegrias.

E essa foi a história dos três poemas que nunca
chegaram ao fim. Não o fim da história, que nunca
acaba, ou que só se acaba quando outra começa:
quando a sombra, redimida, ruma ao deserto
em busca de sua alma perdida. Moral da história:
acredite em finais felizes e faça a sua casa de pedras.

 

 

 

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