Mãe É Imenso

 

 

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Alma

Este mundo de merda está grávido de outro.

 

Gravidez

Há outro mundo que “pode ser” pulsando nesse mundo que “é”

 

Ser mãe é e está muito além que receber homenagens em um dia que anda se pensando mais para movimentar ao comércio do que homenagear à maternidade propriamente.

Viver está muito, mas muito mais além das mesquinharias da realidade política na qual se ganha ou se perde – e da realidade individual também, em que se pode ganhar ou perder.

 

Mantra

mmmmmmmmm
é o primeiro som

 

O que é a maternidade? O que é ser mãe?

Ser mãe é padecer no Paraíso?

Sempre quis discordar desta frase pelo horror que ela representa, ao carregar de negatividade os encargos próprios do feminino, oriundo de uma ideologia do mais rançoso patriarcado. Mas, não será que a alma (= mater) padece de “noites escuras” porque é de sua natureza feminina, de assim existir, algo assim como “parir” com dor…
 

 

 
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Deméter

todo ano engravida do Verão
e dá à luz na Primavera

 

 
Como separar a mãe comum da Maria, mãe de Jesus, ou, qual mãe não padeceria e padece igualmente vendo seu filho sofrer?

Como separar a mãe da Deméter, que todo ano gesta “literalmente” uma nova Primavera, apenas para vê-la desaparecer no inverno seguinte?

Ou tudo isso são invenções (mitos) do patriarcado rançoso e negativo ao qual devemos deixar para trás?

Mas, como deixar para trás, se não há nada ainda à frente?
 

 

Parto

depois do filho
nasce a mãe

 

 
O que vai acontecer? E depois? O que vai ser? Não sei o que vai acontecer. E tampouco me importa muito o que vai acontecer. O que me importa é o que está acontecendo. Me importa o tempo que é. E o o que “é” é esse tempo que se anuncia sobre outro tempo possível que acontecerá.
 

 

Ideal

ser mãe é Utopia
crer no filho

 

 
Faltam-nos mitos significativos que substituam aos antigos? O que fazer para crer no Futuro e dar nascimento positivo aos outros?
 

 

 
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Como fazer para que a alma não se devote mais ao sofrimento, como é seu costume? Será bom e desejável isso?

Estou que nem a Adélia Prado, que ora sim, ora não, crê em parto sem dor.
 

 

Broto

A mão que o sopesa descobre
que nele há algo suspeitoso:

que o seu peso não é o das pedras,
inanimado, frio, goro;
que o seu é um peso morno, túmido,
um peso que é vivo e não morto.

 

 

 
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Ovo

O ovo revela o acabamento
a toda mão que o acaricia
daquelas coisas torneadas
num trabalho de toda vida.

E que se encontra também noutras
que entretanto mão não fabrica:
nos corais, nos seixos rolados
e em tantas coisas esculpidas

cujas formas simples são obra
de mil inacabáveis lixas
usadas por mãos escultoras
escondidas na água, na brisa.

No entretanto, o ovo, e apesar
da pura forma concluída,
não se situa no final:
está no ponto de partida.

 

 

Criação

ser mãe é a Arte
a Obra é o filho

 

 

 

Humor: de Marina Abramovic para Riccardo Tisci, estilista da grife Givenchy: "A moda sempre se alimentou da arte. Você é a moda. Eu sou a arte. Chupe meus peitos."

Humor: de Marina Abramovic para Riccardo Tisci, estilista da grife Givenchy: “A moda sempre se alimentou da arte. Você é a moda. Eu sou a arte. Chupe meus peitos.”


 

 

 

Arquétipo

Gemelar: filhomãe
Polar: mãe-filho

 

 
Como pensar a felicidade sem sopesar o sofrimento, se os binômios, apesar de distintos, são de natureza gemelar?
 

 

Paradoxo

binômio e unidade
mulher e maternidade

 

 
Ser mãe é algo tão gratificante – e penoso – quanto ser professor. Para ser professor – e para ser mãe – acredito ser fundamental, não o conhecimento ou técnica nada desprezíveis adquiridos ao longo de anos de estudo e prática, mas antes a capacidade de acreditar no outro. Acreditar que ele pode. Dar crédito. Botar fé. Nas palavras do Lama Padma Samten, isso é dar nascimento elevado aos outros.
 

 

 
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AFeto

Então está errado quem diz que ser mãe é mais que botar filho no mundo, porque ser mãe é apenas isso: botar o outro no mundo incessantemente.

Vitamina E, “E” de entusiasmo, que vem de uma palavra grega que significa “ter os deuses dentro”. E toda vez que os deuses estão dentro de uma pessoa, ou de muitas, ou de coisas, ou da natureza, é quando mais viver vale a pena.
 

 

 

Matriz

Na manipulação de um ovo
um ritual sempre se observa:
há um jeito recolhido e meio
religioso em quem o leva.

Se pode pretender que o jeito
de quem qualquer ovo carrega
vem da atenção normal de quem
conduz uma coisa repleta.

O ovo porém está fechado
em sua arquitetura hermética
e quem o carrega, sabendo-o,
prossegue na atitude regra:

procede ainda da maneira
entre medrosa e circunspecta,
quase beata, de quem tem
nas mãos a chama de uma vela.

 

 

 
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***

 

Dando prosseguimento ao modo “loucura”, tema do meu último post, ao saudável renovar-se incessante que ali foi proposto, que está na própria essência/arquétipo da maternidade, fiz essa mistura de pensamentos e de poemas, meus e alheios, que você acabou de ler.

A única maneira de não parecer completamente caótica, ou tornar incomunicável minha mensagem, foi separar por cores, o que é meu, do que são poesias e pensamentos de outros.

Atenção às cores primárias da luz: o que se vê em azul é meu, em verde são excertos do poema “O ovo de galinha” do João Cabral de Melo Neto e em vermelho são as falas do Eduardo Galeano retiradas desse vídeo aqui, bastante já repercutido, quando em meio à Praça Catalunya, Espanha, em meados de 2011, foi questionado a respeito das últimas grandes manifestações globais.

Certo, certo mesmo, seria não separar nada. Afinal, tudo é criação de um único autor, certo? De quem?…
Mas referências ainda são importantes no mundo em que vivemos, posto que nosso mundo ainda não é o mundo ideal.

Para o próximo post – ou assim que for possível – e já vou adiantando, aguardem pelo “Manifesto da Vida do Artista” de Marina Abramovic. Um maravilhoso – e chocante – manifesto, tanto quanto sua artista, de onde tirei as imagens inspiradoras, dela e de suas performances, para aqui representar a maternidade. Curioso é que Marina Abramovic não é mãe – a não ser de suas obras. Mas é que ela me parece ser a figura mais viva de Deméter que consiga conceber nesse momento.

Minha ideia foi amplificar o conceito de maternidade, auxiliada pela arte contemporânea de Marina Abramovic, pelo rigor quase sisudo do João Cabral de Melo Neto e pelos ideais humanistas e humanitários do Eduardo Galeano. Não quis que esse ano a data do Dia das Mães passasse em branco no Sopoesia, isto é, não quis deixá-la restrita apenas ao que ela tem se tornado: o segundo dia mais quente do comércio depois do Natal.
 

 

Feliz Dias das Mães a todos!

 

 
Afinal, todos sem exceção pertencemos de algum modo a esse “arquétipo”, sendo filhos ou filhas ou mães…